Sono, Neuroticismo e Insônia: Evidências e Implicações
- 14 de ago.
- 3 min de leitura

1. A ligação entre neuroticismo e insônia
Um estudo do Instituto de Psiquiatria da USP com 595 adultos (18–59 anos) revelou que 61,7 % dos indivíduos com insônia apresentavam níveis elevados de neuroticismo, especialmente quando comparados ao grupo controle Namidia FAPESPNew York Post. Esse traço de personalidade — marcado por instabilidade emocional, ansiedade, medo e irritabilidade — está diretamente associado à dificuldade de dormir.
Segundo a pesquisadora Bárbara Araújo Conway (USP), o impacto do neuroticismo sobre a insônia é mediado pela ansiedade, enquanto a depressão não exerce papel significativo nesse processo neurologyadvisor.comNew York Post.
2. Outros traços de personalidade: abertura como fator protetor
Embora o neuroticismo aumente o risco de insônia, o estudo também descobriu que indivíduos com altos níveis de abertura a experiências (curiosidade, imaginação, receptividade mental) tinham menor probabilidade de desenvolver insônia, atuando como um fator protetor Agência Fapesp.
3. Mecanismos psicológicos: ruminação e divagação mental
Pesquisas mostram que ruminação (ficar remoendo pensamentos negativos) e mind wandering (divagação mental) desempenham papéis críticos ao mediar a relação entre neuroticismo e insônia. Essas formas de pensamento aumentam a dificuldade em adormecer, mantendo o ciclo da insônia ativo PubMed.
4. Relação bidirecional entre personalidade e insônia
Um estudo longitudinal com moradores rurais na China identificou que traços como neuroticismo e extroversão não apenas influenciam a insônia, mas também são influenciados por ela. Ou seja, o neuroticismo piora a insônia, e a insônia, por sua vez, pode aumentar o neuroticismo. Já extroversão, simpatia e consciência tiveram relações menos complexas e unidirecionais PubMed.
Complementando, outra pesquisa recente sugere caminhos práticos para intervenção clínica:
Neuroticismo, ao agravar a insônia, está associado à ruminação, pesadelos e até ao abuso de substâncias como álcool/cafeína.
A insônia pode retroalimentar esse quadro, gerando um ciclo difícil de interromper.
Estratégias como CBT-I com foco em ruminação, terapia de imagem para pesadelos, mindfulness e terapia de aceitação (ACT) são apontadas como intervenções promissoras Frontiers.
5. Revisões sistemáticas destacam a dimensão clínica
Uma meta-análise de 76 estudos encontrou diversas correlações entre insônia e traços de personalidade considerados negativos: neuroticismo, perfeccionismo, afetos negativos, baixa consciência, traços esquizotípicos, entre outros. Esses traços também influenciam adesão e eficácia da terapia (CBT-I) PubMed.
Já uma revisão sistemática de 2024 concluiu que neuroticismo se relaciona fortemente com a qualidade do sono e insônia, enquanto consciência se vinculava a padrões matinais mais regulares — indicando a necessidade de personalizar intervenções com base na personalidade PMC.
6. Motivo clínico e recomendações práticas
Essas evidências destacam a necessidade de avaliar traços de personalidade durante o diagnóstico e planejamento terapêutico da insônia. Pacientes com alto neuroticismo se beneficiariam de abordagens que incluam:
Tratamento direcionado da ansiedade.
Técnicas para reduzir ruminação e pensamentos intrusivos.
Terapias personalizadas como CBT-I adaptada, mindfulness, imagery rehearsal e aceitação.
Além disso, considerar critérios de personalidade permite construir protocolos transdiagnósticos mais efetivos e individualizados, elevando as chances de adesão e resultados duradouros Namidia FAPESPNew York PostFrontiers.
Neuroticismo aumenta o risco de insônia, especialmente quando associado à ansiedade.
Abertura a experiências é um potencial protetor.
Ruminação e divagação mental são mecanismos chave nesse processo.
Existe uma relação bidirecional entre personalidade e insônia — formando ciclos difíceis.
Intervenções devem ser personalizadas e direcionadas para as características psicológicas do paciente para aumentar eficácia.



Comentários